A Sabedoria da Criança: Uma Lição do Tao*
O taoísmo nos convida a redescobrir nossa natureza original através da observação da criança: um ser que vive em harmonia consigo mesmo e com o universo. Aqui exploro como a espontaneidade infantil, sua força flexível e sua abertura para o aprendizado representam virtudes essenciais no caminho do Tao, oferecendo lições preciosas para quem busca equilíbrio e sabedoria em um mundo de complexidade.
FILOSOFIAESPIRITUALIDADEINSPIRAÇÃO
Prof. Marcelo Magoga Terapeuta
5/19/20252 min read


No caminho do Tao, encontramos uma das mais profundas metáforas para a plenitude espiritual: a criança em sua simplicidade natural.
A criança não busca ser algo além do que é, ela simplesmente existe, plena em sua própria natureza. Observe uma criança pequena: ela não se preocupa com o ontem ou o amanhã, mas vive completamente imersa no presente. Esta é a primeira lição que o sábio aprende ao contemplar a infância.
A Virtude da Espontaneidade
O que torna a criança um modelo para o caminho taoísta? É sua espontaneidade imaculada, livre das construções artificiais que acumulamos ao longo da vida. Enquanto adultos nos perdemos em labirintos de pensamentos, a criança age com inteireza — quando ri, todo seu ser ri; quando chora, todo seu corpo expressa sua dor.
Não conhece a divisão entre mente e corpo, entre pensamento e ação, ela é una consigo mesma. O Tao convida a redescobrir esta unidade perdida, este estado original de harmonia que negligenciamos em nossa busca por conhecimento e status.
Como o Tao nos ensina sobre o forte verdadeiro é flexivel e não rígido como uma árvore que se quebra em uma ventania de tempestade, mas flexível como o bambu que se curva e volta a posição original. A criança combina suavidade e força também, com seus ossos mais flexíveis, seu toque é leve, mas sua vitalidade é inexaurível. O Tao nos ensina que o verdadeiramente forte não é rígido como uma árvore que se quebra na tempestade, mas flexível como o bambu que se curva e retorna à posição original.
A água, elemento tão prezado no taoísmo, compartilha esta qualidade com a criança: aparentemente frágil, mas capaz de, com o tempo, esculpir até as mais duras rochas.
O Não-Saber como Caminho para a Sabedoria
A criança não tem vergonha de não saber. Ela pergunta, explora, experimenta. Seu estado de "não-saber" é uma porta aberta para todas as possibilidades. Já o adulto, aprisionado em suas certezas, limita seu próprio horizonte.
O sábio taoísta cultiva este "não-saber" como método. Ele esvazia sua mente de julgamentos e preconceitos para que possa ver o mundo com olhos novos a cada dia. Como ensina o Tao Te King, "aquele que sabe não fala; aquele que fala não sabe".
Retornando à Origem
No ciclo da vida, começamos como crianças e, idealmente, terminamos como crianças sábias. O caminho do cultivo espiritual é paradoxal: avançamos retornando. Estudamos para transcender o estudo, pensamos para superar o pensamento.
A verdadeira maestria no Tao não está em acumular, mas em desaprender o que nos afasta de nossa natureza original. É um convite para nos reconciliarmos com a espontaneidade, a leveza e a plenitude que eram nossas na infância.
O sábio olha para a criança não com condescendência, mas com profunda reverência, reconhecendo nela um professor silencioso do caminho. Pois como diz o Tao, a verdade mais profunda frequentemente se esconde no mais simples e no mais óbvio.
Que possamos, em nossa jornada, recuperar a sabedoria da criança que um dia fomos, cultive sua criança interior, não a despreze.
*Baseado no texto 55 do Tao Te King, de Lao-Tse,"A Criança Como Modelo",